Fotografia de Arquitetura- Dicas Perspectiva e Convergência

Conteúdo

Introdução

A fotografia nem sempre consegue mostrar a realidade. Sabemos que a câmera apresenta limitações na quantidade de cores e iluminação que consegue capturar em uma foto, mas as imperfeições se estendem também às formas, que acabam distorcidas pelas lentes. Um exemplo são as linhas que são paralelas no mundo real, mas que na fotografia, às vezes acabam tomando aspecto convergente.

Basta um pequeno ângulo de inclinação da câmera (ao invés de uma fotografia com a câmera nivelada com o horizonte) para que linhas retas paralelas se tornem inclinadas e convergentes em uma imagem – criando um ponto de fuga, de tal forma que os lados de um prédio perfeitamente retangular apareçam tortos/tombados na fotografia.

Veja abaixo um exemplo de fotografia da cidade de Chicago e compare as duas versões. A foto à esquerda é a original, como tirada, com os prédios “tombados”. A da direita teve a distorção causada pela perspectiva corrigida no Lightroom. Perceba como a da direita é mais agradável de se ver.

Entender o que é distorção vertical, horizontal e perspectiva é muito importante para qualquer fotógrafo, de qualquer área – mas deve ser observado especialmente por:

  • Fotógrafos de arquitetura e interiores;
  • Fotógrafos de stock e comerciais;
  • Fotógrafos de viagem.

Coloque-se no lugar de um arquiteto que deseja contratar um fotógrafo para retratar o seu prédio recém-construído. Você não vai querer que o seu prédio apareça torto em uma foto, nem com paredes arredondadas. O que seus clientes iriam pensar?

Para o nosso cérebro, mesmo que inconsciente, não é esteticamente agradável ver fotos de arquitetura que mostram prédios e paredes como se fossem tortas, inclinadas, arredondadas, pois não é assim que enxergamos no mundo real. Neste artigo, ensinamos dicas de equipamentos e pós-processamento que ajudam reduzir ou remover problemas de perspectiva acentuada e de distorção vertical e horizontal.


1. O que é distorção vertical, horizontal e ponto de fuga

Vamos começar com alguns exemplos para ajudar no entendimento dos termos “distorção vertical”, “distorção horizontal” e “ponto de fuga”. Assim, mostraremos, de forma visual, como cada tipo de distorção afeta o paralelismo de linhas e as tornam convergentes em uma imagem.


Distorção vertical – Convergência vertical

Distorção vertical é aquela que ocorre geralmente quando a câmera+lente estão apontadas para cima ou para baixo. Isto cria um ponto de fuga na imagem, fazendo com que as linhas verticais tendam a se encontrar. Por causa disso, os prédios acabam por parecer que estão tombando.

Veja nos exemplos abaixo: os pontos de fuga estão aonde os segmentos de reta vermelhos (linhas de fuga) se encontram.

Com estes exemplos, podemos observar que em fotografias de arquitetura:

  • o ponto de fuga se encontra acima das edificações quando a câmera está inclinada para cima;
  • o ponto de fuga se encontra abaixo dos prédios quando a câmera está apontada para baixo.

Distorção horizontal – Convergência horizontal

Distorção horizontal é aquela que ocorre quando a câmera+lente não estão perfeitamente perpendiculares a uma das faces ou fachadas do prédio. A câmera aponta mais para um dos lados, ou para uma aresta (quina).

Neste caso, o ponto de fuga fica mais para a direita ou esquerda da imagem.

O ponto de fuga lateral afeta a imagem de tal forma que um dos lados de um prédio aparenta ser mais alto que o outro, quando na verdade eles têm a mesma altura. Desta forma, as linhas de fuga (linhas imaginárias que conectam o ponto de fuga) convergem em um ponto lateral – criando uma convergência horizontal.

No exemplo da fotografia de arquitetura acima, a convergência horizontal não é um problema e nem pode ser considerado um erro do fotógrafo. Mas na fotografia de fachada a seguir, ter linhas horizontais convergentes é sim um problema.

Observe a fotografia original à esquerda, com todas as linhas horizontais paralelas, sem qualquer problema de paralelismo ou convergência horizontal e, agora, compare com a imagem da direita com uma perspectiva acentuada e linhas horizontais convergentes (pior aspecto visual).


Distorção radial

Outro tipo de distorção que interfere de forma negativa na fotografia de arquitetura é a radial. Clique aqui para aprender mais sobre distorção radial.


Inclinação e convergência – Perspectiva acentuada

Dependendo da inclinação da câmera, as linhas de fuga (laterais verticais dos prédios) podem convergir com mais intensidade. O exemplo abaixo é extremo, no qual a câmera está completamente inclinada para cima. Neste caso, o ponto de fuga está dentro da própria fotografia. Está, então, diferente dos exemplos anteriores, nos quais a inclinação da câmera era menor e os pontos de fuga estavam fora das imagens.


2. Dicas de fotografia para evitar distorção vertical e horizontal em imagens

Para corrigir problemas de paralelismo e deixar as fotografias de arquitetura com uma estética perfeita, muitas vezes temos que recorrer ao pós-processamento em Lightroom, Photoshop ou outro programa similar. A seguir, apresentaremos algumas dicas de como fotografar com o objetivo de reduzir o pós-processamento necessário em uma imagem.


1. Forma clássica: Use uma lente capaz de controlar a perspectiva, como uma tilt and shift.

Com uma lente tilt and shift, não há necessidade de inclinar a câmera para cima ou para os lados para fotografar alguns prédios. Basta regular a lente enquanto se mantém a câmera nivelada horizontalmente e perpendicular à fachada, antes de fotografar. Esta é a solução mais cara de todas, já que requer lente especializada.


2. Trace uma linha vertical imaginária no centro da fachada ou parede e posicione-se próximo a ela.

Quando estiver fotografando uma fachada, evite ficar mais para um lado ou para o outro. Tente ficar no centro, de tal forma que não precise apontar a câmera para nenhum lado. Procure manter a câmera em uma posição perpendicular ao plano frontal do prédio.

Como exemplificado anteriormente, se a câmera é apontada para um dos lados, cria-se/acentua-se uma perspectiva lateral, causando distorção horizontal. 

Manter-se no centro horizontal, sem apontar a câmera para cima ou para baixo, ajuda também a evitar a distorção vertical, mas é praticamente impossível quando o prédio é muito alto.


3. Para maior precisão, utilize um nível.

Utilize um nível simples tipo bolha, ou, se a sua câmera tiver um nível eletrônico, ative-o para garantir menor ou nenhuma inclinação da câmera ao fotografar. O nível serve o propósito duplo de manter a câmera alinhada com o horizonte e também de deixá-la perpendicular ao objeto fotografado. 

Nota: Para um pouco mais sobre fotografia, objetivo da fotografia de arquitetura e sua relação com a perspectiva e a realidade, veja este link: A Perspectiva na Fotografia de Arquitetura (Pôster de Artigo de Iniciação Científica do Curso de Arquitetura na UFRGS)


3. Pós-processamento para remover problemas de perspectiva acentuada

Em muitos casos, mesmo tentando tomar algumas precauções e seguir as dicas aplicáveis da sessão anterior, não é possível obter uma imagem com paralelismo perfeito. Lentes tilt and shift são muito caras, e por isto estão longe do alcance de muitos fotógrafos. Também temos um problema em relação às lentes grande angulares, que costumam produzir distorção radial nas fotografias – e não há nada que possamos fazer quanto a isso na hora da captura.

Portanto, o próximo passo para a maioria das fotografias de arquitetura é fazer as correções necessárias no pós-processamento, utilizando algum software de edição de imagens como o Photoshop, Lightroom ou Gimp. Veja um passo a passo destas correções a seguir, utilizando o Lightroom.


1. Corrija distorções radiais. Eliminar efeitos de distorção tipo barril quando utilizamos lentes grande angulares é essencial na fotografia de arquitetura ou de interiores. Se muito acentuada, a distorção radial pode atrapalhar na hora de remover a perspectiva e a convergência indesejadas da foto.

Para o passo a passo específico de como eliminar distorção radial, visite o nosso artigo especializado: Removendo Distorção Radial de Fotografias


2. Garanta que a imagem está alinhada com a linha do horizonte. Muitas vezes, mesmo tendo cuidado na hora de compor a fotografia, ela sai um pouco torta. Rotacione a imagem quando necessário. Se a linha do horizonte não aparecer na fotografia, se guie por linhas horizontais, como bases de janelas ou alisares de portas.

Na imagem abaixo, as linhas horizontais na igreja ao fundo foram tomadas como base para ajuste (rotação) da fotografia no pós-processamento.


3. Utilize a opção de Correção de Lente > Manual, para corrigir tanto a distorção horizontal (quando a câmera estava inclinada para um lado ou para o outro), quanto vertical (quando a câmera estava inclinada para cima ou para baixo na hora da fotografia).

Cuidado com a opção “Restringir Corte” automático (crop automático). Ao corrigir o paralelismo manualmente, esta opção de crop automático às vezes remove parte considerável das bordas da imagem.

Muitas vezes, ao corrigir a distorção vertical, o Lightroom “empurra” o topo ou a base da imagem para fora da “área de trabalho” – é como se ele jogasse fora parte da fotografia. Para resolver este problema, reduza a escala da foto, na aba Correções da Lente > Redimensionar, conforme marcado abaixo.


4. Este passo muitas vezes não é necessário: em algumas fotografias é preciso corrigir linhas que ficaram tortas. Para isto, utilize a ferramenta de distorcer do Photoshop.


5. Este passo também depende da fotografia – não será necessário em todos os casos. Use o Photoshop para criar conteúdo novo em áreas cinzas da imagem.

Devido ao formato cônico que a imagem toma, criar conteúdo novo ajuda a manter partes das laterais da imagem que possivelmente seriam excluídas ao cropar a fotografia alinhada com a sua parte mais fina.

Veja abaixo o exemplo de conteúdo criado nos cantos inferiores e superior esquerdo e como a imagem ficou após as edições:


4. Excesso de correção de perspectiva na fotografia de arquitetura

Na hora de corrigir a perspectiva, não há um limite entre o certo e o errado. Alguns pensam que as linhas verticais precisam ficar sem inclinação alguma, outros acham que deve se manter um pouco da inclinação.

O fato é que, apesar de a nossa visão adicionar menos perspectiva do que uma lente grande angular e o nosso cérebro compensar parte desta perspectiva sem nem percebemos, a nossa visão do mundo real contém perspectiva: fique na base de um prédio alto e olhe para cima: o topo aparece mais fino do que a base.

Por causa disso, ao corrigirmos 100% a distorção vertical de uma imagem, ela toma um aspecto menos natural. Em alguns momentos, até parece que a base do prédio está menor do que o topo, mesmo quando as paredes estão sem inclinação alguma, como na fotografia de arquitetura abaixo:

Desta forma, alguns defendem que a correção de perspectiva tem limite, apesar de a maioria aceitar que ela é necessária.


5. Distorção vertical de perspectiva Vs distância

A distância do fotógrafo ao prédio é um fator muito importante na formação da distorção vertical da fotografia.

A melhor forma de compreender esta afirmação é com um exemplo prático: as três fotos a seguir não tiveram perspectiva corrigida ou alterada.

Veja como, ao longe, uma fotografia que enquadra inteiramente o arranha-céu New York by Gehry, do arquiteto Frank Gehry, mostra suas laterais perfeitamente paralelas (foto à esquerda). Conforme nos aproximamos do prédio, a perspectiva adicionada na fotografia começa a se acentuar, com as laterais ligeiramente inclinadas (foto do meio). Quando olhamos de muito perto, da base do edifício (foto da direita), o seu topo parece bem menor do que realmente é.

Este é o mesmo efeito visual que temos ao olhar para uma estrada, quando temos a impressão de que os acostamentos de cada lado se aproximam um do outro conforme a distância para a nossa vista (câmera) aumenta. O ponto de união final equivale ao ponto de fuga da imagem.

Esta fotografia acaba sendo praticamente uma demonstração visual do conceito matemático de que duas retas paralelas se encontram no infinito.


6. Quando corrigir a perspectiva não é necessário

Para algumas fotografias de arquitetura, como a do Walt Disney Concert Hall – novamente do arquiteto Frank Gehry – exemplificada a seguir, corrigir distorções causadas pela perspectiva é irrelevante.

Close-ups de prédios ou detalhes arquiteturais em estruturas de pouca ou nenhuma simetria e paralelismo não exigem correção. A beleza desta imagem vem do caos estético do prédio, que é interessante tanto na vida real quanto na fotografia.


Publicado por Câmera Neon em 2017-05-06 11:11:22. Última atualização em . Câmera Neon

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